sábado, 25 de abril de 2009

Outro 25 de Abril...

Ah, pois é... hoje é dia 25 de Abril. Dia da Revolução dos Cravos...
A um sábado até passa despercebido... talvez com uma pitada de ironia divina pois quase tudo o que pretenderam fazer desse dia do ano de 1974 para o futuro está, hoje, por terra. Dos três D's - Democracia, Descolonização, Desenvolvimento - nada resta ou quase nada: talvez só a mágoa dos iludidos nesse tempo, talvez só a raiva dos desiludidos por esse tempo, talvez só a indiferença dos que, como eu, não eram sequer nascidos nesse tempo.
Sim, decerto que me podem acusar de ignorar a realidade do antes e depois, de "falar de cor": uns dirão que sou mal-agradecido por uma liberdade a custo conquistada, porque não lhe presto preito e homenagem; outros que traio a memória do império e de uma certa ideia de Portugal, que então morreu - como se ainda vivesse realmente por essa altura. Porém, e como o que fazemos no presente se repercute no futuro, o facto de viver hoje as consequências dos acontecimentos e das decisões tomadas nesse tempo confere-me o direito à sua crítica.
Quanto à liberdade, tanta me deram, quase tanta me tiraram. Ah, sim, claro posso pensar, falar, ler e escrever o que me apetecer... desde que se insira na grelha de múltipla escolha política que me oferece o regime "democrático" vigente... algo estreita, de resto, para não ter de pensar muito, não me vá fazer mal. Tudo o que cheire a PÁTRIA, esse conceito nacionalista, fachista e discriminatório deve ser evitado em qualquer debate sério, porque o progresso europeu não pode parar por questões tão ireelevantes e obsoletas como os interesses nacionais. E claro, tudo o que escape ao controlo do Estado Português está assegurado pelo do Grande Olho (Europeu) - qualquer semelhança com o G.O.(L). não é pura coincidência - que ainda há pouco tempo nos veio informar os portugueses que, se não fosse aprovada a lei de despenalização do aborto, a União Europeia se encarregaria de o fazer por nós.
Os que conquistaram a liberdade "democrática", uma vez no poder, ficaram com uma parte no bolso e venderam quase tudo o resto à França, à Grã-Bretanha e à Alemanha por um punhado de fundos comunitários a pagar aos grandes burgueses da banca e da construção - esses mesmos que lhes deram emprego depois de saírem dos seus cargos europeus, aos quais ascenderam pelo seu bom comportamento no Governo e na Administração Pública Portuguesa. Os bons alunos europeus! (sem sombra nem mancha de promisquidade!)
Está bom de ver a Democracia e o Desenvolvimento que nos restaram depois desta alienação da nossa liberdade; ainda que, como já aqui defendi - a democracia é como o Pai Natal, não existe e, portanto, não nos podería ter sido dada pelo 25 de Abril, - para os ingénuos que ainda acreditam nos dois, os últimos tempos têm sido trágicamente reveladores. Pois não é que a censura que se julgava erradicada ataca agora no seio dos grupos parlamentares, sob a nome de disciplina partidária? Pois não é que hoje em dia se condiciona a justiça por pressões políticas sobre o Ministério Público e se perseguem funcionários públicos por delitos de opinião? Pois não é que as escutas ilegais se multiplicam, que o segredo de justiça é só para alguns e nunca se encontram culpados?
Pois não é que nem nos tempos ditos os mais negros do salazarismo, nem desde que há registos fiáveis, pois não é que nunca houve em Portugal semelhante diferença de rendimento entre ricos e pobres? MAS QUAL DEMOCRACIA??? Que liberdade, que igualdade, que fraternidade são estas?
Falta falar da descolonização... muitos começariam por esta. Eu não.
Se a descolonização foi mal feita e foi (os índices de pobreza, os anos de guerra subsequente, a destruição comunista infligida aos modos de vida, às estruturas tribais, aos equilíbrios étnicos, à paz social, à Igreja com tudo que representava nas ex-colónias são disso contundente prova), não foi menos mal gerida toda a questão da tensões independentistas e da Guerra do Ultramar pelos Governos Salazaristas. Para mim, a descolonização subsequente ao 25 de Abril foi uma vergonha para um país ao qual foi confiada por Deus uma fundamental missão evangelizadora e responsabilidades de monta na civilização de África e do Novo Mundo: mas essa missão e responsabilidades há muito que tinham sido postas de parte, cá como lá, no cardápio das prioridades e motivações coloniais portuguesas. A cedência do regime Salazarista a todos os desvarios da sua bem amada burguesia, à mesma burguesia capitalista e maçónica que tudo quer, tudo consome e todos explora, ontem como hoje, ditou o fim próximo do Império. Deus o deu, Deus o tirou; porque o não soubémos merecer.
O 25 de Abril. Foi só mais uma revolução. Uma das muitas que desde 1789 vão alternando com ditaduras autoritárias na gestão das tensões sociais que umas alimentam nas outras. Porque há sempre quem acredite que a outra é a solução. Quando não há Deus na vida das pessoas é assim: when you don't believe in nothing you believe in anything - Chesterton.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixe o seu Comentário