CPLP - Como se Pode Lixar um (bom) Projecto
De Vasco Graça Moura vêm sendo habituais, além de palavras de deleite literário, palavras de bom senso. Palavras de quem ama e defende a língua que fala e eleva pela escrita, como parte da herança ancestral que chamamos de Pátria. Hoje e mais uma vez, Graça Moura usou as palavras certas. As que ninguém quis proferir publicamente mas que muita gente partilhava no intimo da sua opinião pessoal sobre a CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa.Disse Graça Moura e transcrevo a citação da Agência Lusa que "a CPLP é uma espécie de organização fantasma, que não serve para rigorosamente nada, a não ser ocupar gente desocupada". Completamente certo: aliás desafio o leitor que se recorde de algo que tenha produzido a CPLP de assinalável desde a sua criação. Não o conseguirá, por certo. Talvez lhe ocorra, infelizmente, o empenho demonstrado na promoção, ou melhor - imposição - do desastroso acordo ortográfico para Língua Portuguesa. Desastroso para os falantes de português, já que não foi no seu interesse cultural mas sim no interesse economicista de grandes grupos empresariais internacionais, cujas variações linguísticas de edição e rotulagem impunham alguns custos de adaptação aos diferentes mercados lusófonos, que o acordo ortográfico foi gizado e feito ratificar.
De resto, este caso traz luz sobre a polémica da oposição do governo português à compra da participação da Portugal Telecom na operadora móvel brasileira Vivo pela Telefonica espanhola. Invocou o Governo Português estar com essa oposição a defender o interesse nacional... interesse nacional que se resume para o Governo, como se pôde ver na questão do acordo ortográfico como em muitas outras, na defesa do interesse de alguns grupos económicos.
Esse distorcido conceito de interesse nacional levou a que nenhum investimento, nenhum empenho fosse canalizado para a CPLP, a fim de que a organização cumprisse alguns fins nobres para os quais tinha por alguns sido sonhada e estava em posição privilegiada para perseguir. Ser um efectivo motor do desenvolvimento comum da Lusofonia, esteio de defesa da língua portuguesa no mundo e um canal de representação e influencia dos cerca de 250 milhões de almas que congrega, no cômputo geo-político. Uma Commonwealth lusófona, dizia-se...
Por estes dias o suposto interesse nacional soma e segue: está em avaliação (ou para aprovação) o pedido de entrada na CPLP da Guiné Equatorial, com propalado apoio português. O que mais surpreende da notícia é o interesse demonstrado pela Guiné Equatorial em aderir a uma organização comprovadamente inútil; a única justificação plausível será a intenção do ditador guineense-equatorial Obiang conseguir, com esta integração, um lugar à mesa das nações ditas democráticas, para aliviar a pressão externa e interna que sofre o seu regime ditatorial, opressivo e corrupto, já com 31 anos de idade. Afinal, não deve ser nada fácil para Obiang justificar perante o seu povo e a opinião pública internacional como se pode ser o 8.º governante mais rico do mundo, governando um dos países mais pobres do mundo... e no fim de contas a CPLP deve ser a única organização internacional disposta a aceitá-lo.
Até porque quem trata a língua portuguesa como trata quem defende o acordo ortográfico, nem se deve aperceber que a Guiné Equatorial não é um país de língua oficial portuguesa. Ou que a Galiza, que teve durante algum tempo estatuto de observador na CPLP não é um país, ainda que a língua galega seja de um parentesco incontornável para compreender em profundidade a língua portuguesa, desde a sua raiz histórica. Mas a necessária aliança e cooperação da lusofonia na hispanidade da qual faz parte ainda que não se aperceba disso, não pode ser feita da descaracterização da sua própria essência para satisfazer mesquinhos interesses de gigantes ambições. Mesquinhos interesse mal-chamados, muitas vezes, de interesse nacional.