Começamos por transcrever esta nota publicada na edição 877 da revista Visão de 24 de Dezembro de 2009, página 71:
“Portugal atacado em Marrocos
Um dos mais populares jornais marroquinos, Le Soir, lançou nos últimos dias, um violento ataque a Portugal. Os portugueses, lê-se no jornal, acusam Marrocos «de ocupar ilegalmente o Sara e de proceder a graves violações dos direitos humanos e do direito internacional». Ao voto de condenação de Marrocos devido ao caso Haidar, Le Soir contrapõe «o passado guerreiro, sanguinário e esclavagista desse Estado minúsculo que governou metade do planeta e que construiu a civilização moderna sobre massacres e purificações étnicas, na Ásia, em África e na América Latina». O jornal diz que os marroquinos não aceitam lições de um país com uma história de «milhões de indígenas exterminados por tropas lusitanas que queriam espoliar as suas terras».“
Aparentemente, este ignominioso ataque não teve da parte da diplomacia e do governo português nenhuma queixa, da parte do parlamento partidista e da imprensa portuguesa nenhuma resposta. De facto, aos disparates não se deve responder; mas quando sobre o nome de Portugal, que devia ser sagrado para todos os portugueses e estimado por todos os hispanos, são cuspidas tais mentiras, o silêncio é infame consentimento. Por isso, no Portugal Tradicionalista e no Sagrada Hispânia respondemos sem hesitação ao citado pasquim marroquino, lamentando que quem tem por maior dever fazê-lo se tenha cobardemente abstido.
À direcção de edição do Jornal Le Soir de Marrocos:
Vimos por este meio exigir a retratação das falsidades que haveis publicado e que sujam o nobilíssimo nome de Portugal, perante a família das nações. Se não o fizerdes, sereis reconhecidos, para além de qualquer dúvida, como um conjunto de miseráveis mentirosos e caluniadores que não merecem ser chamados de jornalistas.
Até se pode concordar em que o parlamento partidocrata e liberalesco de Portugal nada deveria ter a opinar sobre assuntos que não sejam relativos ao próprio país e que segue uma triste tendência de abusiva intromissão muito em voga no hemisfério ocidental. Acontece que em vez de legitimamente responder a um parlamento que criticou a política do Reino de Marrocos, o Le Soir marroquino julgou por bem, falto de outros argumentos, caluniar todo o povo português, o nome de Portugal e a sua história, com uma série de acusações falsas e outras que, vindas de mouros, só podem ser para rir.
Aludis no vosso artigo ao passado guerreiro, sanguinário e esclavagista de Portugal; não o negamos. Portugal foi até, por alguns séculos e justamente, terror do mouro e do turco. Mas aconteceu muito depois dos mouros terem invadido a Hispânia goda, chacinado sanguinariamente milhares de cristãos e escravizado outros tantos, durante séculos, nas suas próprias terras. Quanto a esclavagismo diga-se, em abono da verdade, que nas suas feitorias da costa ocidental de África Portugal comerciava escravos negros que lhe eram vendidos por outros negros e por… mouros. O que está historicamente comprovado. Mas o superior esclavagismo dos mouros não fica por aí: além de escravos negros também brancos foram amplamente vendidos nos bazares das praças situadas em território actualmente marroquino. Por isso, se falamos de esclavagismo, os portugueses são historicamente uns amadores quando comparados com os mouros.
É totalmente falso que os portugueses tenham construído “a civilização moderna sobre massacres e purificações étnicas, na Ásia, em África e na América Latina”. Isto é uma intolerável mentira, produzida pela mais indigente ignorância ou afiada maldade. Passou-se inteiramente o contrário: já no reinado do Rei D. Manuel I, no início do século XVI, se promoviam por lei os casamentos mistos de homens portugueses com mulheres indianas, a fim de assegurar a integração da colonização portuguesa e dessa forma, com poucos efectivos metropolitanos lograr uma administração ultramarina eficaz. Vós próprios reconheceis este efeito pelo epíteto que ofereceis de “Estado minúsculo que governou metade do planeta”. Epíteto que, longe de ofender nos orgulha aos portugueses.
Se há país que promoveu a convivência e fusão étnica, esse país é Portugal – a actual e diversificada composição demográfica do Brasil é a maior evidência de jamais foram levadas a cabo purificações étnicas pela colonização portuguesa.
Que não queiram aceitar lições dos outros é lá com o vosso arbítrio: haverá sempre os que querem aprender e os que preferem manter-se ignorantes. Agora acusar os portugueses de pela morte «milhões de indígenas exterminados por tropas lusitanas que queriam espoliar as suas terras» é mais que ignorância, é má-fé! Quando Portugal construiu o seu império ultramarino no ímpeto evangelizador dos séculos XV e XVI, tinha ao tempo cerca de um milhão de habitantes. Fazendo-se transportar em naus com capacidade para cem ou duzentos homens, nunca conseguiu colocar em nenhum cenário mais de cinco mil soldados e quase sempre muito menos. Lutaram os colonizadores portugueses contra exércitos superiores em número e em poderio: turcos, árabes, hindus, mouros, holandeses, malaios… como é que poderiam ter exterminado milhões de indígenas??? Com excepção dos territórios que vieram a tornar-se o Reino do Brasil e as províncias ultramarinas de Angola e Moçambique, todos os domínios portugueses foram estreitas faixas costeiras destinadas a conservar as feitorias de comércio. Como é que nessas feitorias se chacinaram milhões de indígenas? Como se chacinaram milhões de indígenas e só o santo espanhol São Francisco Xavier converteu ao cristianismo mais de 10.000 almas, só nos domínios portugueses do oriente???
Sois totalmente falsos no que afirmais! Envergonhai-vos da triste desculpa para peça jornalística que haveis apresentado. Procurai uma réstia de vergonha no fundo da vossa aleivosia e retirai as calúnias com que haveis salpicado o nome de Portugal!
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
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